A aplicação da neurociência no mercado de arquitetura ganhou força nos últimos anos, especialmente no meio corporativo, com o aumento de empresas e executivos preocupados em tornar o ambiente de trabalho mais confortável e produtivo para o colaborador. Com a popularização do home office, muitas pessoas levaram essa tendência para dentro de casa, onde também é possível implementar mudanças que impactam aspectos como qualidade do sono, relaxamento, organização, entre outros.

Um levantamento feito pela Archademy, maior comunidade de negócios do segmento de arquitetura e design de interiores, mostrou que, em 2021, 95,5% dos profissionais dessas áreas relataram crescimento de demanda para reforma em ambientes residenciais. Entre os principais pedidos, a adequação do layout geral da casa foi relatada por 67,4% dos entrevistados; adequação da casa para home office por 65,8%; e 58,4% foram procurados para alterar os espaços de convivência.  

CEO da Conecta Reforma, startup que conecta proprietários de imóveis com prestadores de serviço para execução de grandes reformas, Danilo Duarte concorda que essa procura tem o impacto do crescimento do trabalho remoto após a pandemia, mas observa que as pessoas estão percebendo cada vez mais a necessidade de ter um espaço otimizado, funcional e que transmita conforto e bem estar. Nesse caso, segundo ele, o efeito positivo é ainda maior do que nos escritórios ou sedes de empresas. 

“Como é exclusivo para uma ou poucas pessoas, o arquiteto vai estudar o perfil e necessidades dos moradores da casa e criar as soluções adequadas de acordo com esses perfis, adequando desde a planta da casa, até pequenos detalhes de decoração ou posição dos móveis”, afirma.  

Entre os pontos que mais se destacam dentro da neuroarquitetura, de acordo com Danilo Duarte, estão a implantação de ambientes menos impactados por ruídos externos, investimento em aspectos da natureza, como plantas em locais internos, e a utilização da psicologia das cores.   “A neuroarquitetura usa estrategicamente essas ferramentas a seu favor, criando cenários capazes de intensificar emoções nas pessoas. Assim como nos ambientes corporativos, investir na natureza das plantas, luz natural e boa circulação do ar são fundamentais para estimular o relaxamento”, explica o CEO da Conecta.  

Tratamento de doenças

Os efeitos da relação do ambiente com os estímulos que o cérebro recebe podem ser aplicados também na medicina. Em janeiro deste ano, o filantrópico Hospital da Baleia, em Belo Horizonte, especializado em tratamento de câncer, inaugurou um espaço batizado de Varandinha da Plasticidade.

Trata-se de um ambiente que já era utilizado, mas que passou por mudanças baseadas em um projeto de neuroarquitetura.  

O local foi pensado pela designer de interiores e fisioterapeuta geriátrica, Cristina Atheniense, e conta com cantinho de leitura, música ambiente, painel sensorial para estímulo cognitivo do paciente, mesas lúdicas, placas em braile, além de frases de estímulo e uma homenagem aos profissionais de saúde. A escolha dos materiais, formas, texturas e cores foram baseadas no princípio da biofilia – que remete à natureza –, o que, de acordo com o Hospital da Baleia, é cientificamente comprovado pela Universidade de Oregon como efeito calmante.  

A Coordenadora de Cuidados Paliativos da unidade, Cristiana Savoi, conta que o espaço trouxe mais envolvimento entre as pessoas que nele se tratam, trabalham ou visitam. “Mais do que o aspecto médico com tratamentos e medicamentos, quando temos um ambiente como esse, os pacientes obtêm a sensação de cuidado amplo. Isso reflete nos pacientes, familiares e até na satisfação da equipe”, diz.  

By Adriane Costa

Imagem: ilustração