Quando o mercado interno gira, a indústria avança: desafios e oportunidades no varejo
Congresso Moveleiro reúne lideranças de mercado em Curitiba, no próximo mês de outubro — impactos de políticas monetárias, do ambiente econômico, dos investimentos em tecnologia e inovação, e da geopolítica no desempenho ao longo da cadeia moveleira estão na pauta
Postado sexta-feira 22/08/2025 por Redação

O desempenho da indústria e do varejo de móveis brasileiro em 2025 reflete um paradoxo econômico: inflação em desaceleração, mas ainda acima da meta; emprego em alta; e juros no patamar mais elevado em quase duas décadas. O equilíbrio entre oferta, demanda e crédito define os rumos de uma cadeia que movimenta 1,1 milhão de trabalhadores diretos e indiretos no país.
Com a Selic mantida em 15% ao ano (Banco Central), o crédito encareceu e restringiu o fôlego das compras de maior valor. Ao mesmo tempo, os esforços para controlar a inflação — em 5,23% até julho (IBGE) — e o avanço da renda real das famílias preservam algum dinamismo no consumo. O resultado é um crescimento instável, com um maior consumo interno aparente, que eleva a produção na indústria, mas uma demanda ainda instável na ponta.
Esse ambiente será o plano de fundo do 12º Congresso Nacional Moveleiro, promovido pelo Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Paraná) e pela ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), com apoio da CNI (Confederação Nacional das Indústrias do Mobiliário) e do Conselheiras, nos dias 1º e 2 de outubro de 2025, em Curitiba (PR), no Campus da Indústria.
O encontro reunirá lideranças da indústria e do mercado para discutir temas relevantes para o setor moveleiro nacional, incluindo os impactos de políticas monetárias, do ambiente econômico, dos investimentos em tecnologia e inovação, e das pautas geopolíticas no desempenho ao longo da cadeia moveleira — do chão de fábrica às lojas de varejo, passando pelas exportações.
Para o presidente da ABIMÓVEL e vice-presidente da Fiep, Irineu Munhoz, o Congresso Moveleiro 2025 ocorre em um momento importante para a indústria nacional: “O setor de móveis é um dos termômetros da economia brasileira. Quando a renda e crédito avançam, o consumo reage de imediato, impulsionando a produção nas fábricas, ampliando postos de trabalho e fazendo o dinheiro circular no país. Hoje, no entanto, vivemos um cenário onde mesmo com investimentos consistentes, não há garantia de retornos previsíveis. O Congresso é, portanto, o espaço para refletirmos sobre esses desafios e construirmos caminhos que integrem indústria, varejo e políticas públicas, transformando a resiliência já demonstrada pelo setor em competitividade sustentável”.

Entre 2024 e 2025: mudança de ritmo
O contraste com 2024 ajuda a dimensionar o momento atual. O ano passado foi considerado “especialmente bom” para o setor moveleiro, com crescimento na produção e vendas sobre 2023 — um ano “ruim” —, impulsionado pela melhora do emprego, da renda e do consumo interno. Já em 2025, o avanço, como esperado, é mais comedido.
Segundo dados do IEMI, a indústria de móveis estima alta de 2,6% em peças fabricadas no primeiro semestre e de +1% em faturamento. No varejo, contudo, estima-se que houve pequeno recuo de 0,4% em volume, ainda que com crescimento de 3,3% em receita, o que reflete também o ajuste nos preços.
Economia em transição
Embora a inflação esteja em trajetória de desaceleração, o espaço para corte de juros ainda é restrito. O Banco Central mantém a Selic em dois dígitos para, segundo eles, conter pressões inflacionárias persistentes em serviços e alimentos, enquanto os bancos continuam seletivos na concessão de crédito.
O resultado aparece nos indicadores: a taxa média do crédito livre às famílias chegou a 58,3% ao ano, segundo o BC; já a inadimplência atinge 30,2% da população brasileira e o comprometimento da renda com contas e dívidas está em 70,5%, de acordo com informações do Serasa Experian. Na prática, as famílias seguem consumindo, mas de
maneira mais criteriosa. Alimentação e serviços mantêm ritmo, enquanto bens duráveis sentem o pé no freio.
Tal cenário será retratado por Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, que levará sua visão estratégica sobre o cenário macroeconômico do país, seus impactos no setor produtivo e as perspectivas para a indústria nos próximos anos ao palco do Congresso Nacional Moveleiro.
Varejo em reinvenção
O ambiente desafiador também reorganiza canais de venda. As plataformas on-line, especialmente B2C (da empresa para o consumidor) e D2C (direto para o consumidor), vinham crescendo bem antes da pandemia, mas ainda eram pouco representativas em termos de receita comparativamente ao varejo físico de móveis, respondendo por cerca de 4%, pontua o IEMI. Após o isolamento social, no entanto, ganharam um grande impulso e hoje já movimentam 2,5 vezes mais vendas, tornando-se essenciais no planejamento de expansão seja regional ou financeira dos negócios.
Entretanto, o desafio da logística e da montagem do produto na casa dos consumidores continua pesando muito no processo de comercialização do mobiliário e ainda funciona como uma barreira para a maioria dos pequenos fabricantes e lojistas do segmento. É nesse ponto que os marketplaces se tornam tão importantes na venda on-line, seja na geração de fluxo de compradores ou na disponibilização de uma gama maior de serviços.
O ponto de venda físico, cada vez mais, se transforma em centro logístico e de relacionamento, estratégia apontada como essencial por executivos. Os canais que oferecem mais margens tendem a ser os que oferecem maior exclusividade e um melhor pacote de serviços, agregados ao mix de produtos e marcas que comercializam. Ou seja, margens não são dadas pelo canal, são “construídas” pelas marcas que sabem operar bem nesses canais, independentemente do formato da loja e se a venda ocorre em ambiente físico ou digital.
Quem fala mais sobre isso durante o Congresso é Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil. A executiva, que é referência na área, enfatiza como empresas podem usar a tecnologia e a inovação para crescer, se aproximar do consumidor e manter relevância em um mercado competitivo.
Panorama no mercado interno e externo
À frente do painel “Transformando dados e informações em estratégia competitiva”, Marcelo Prado, sócio-diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial, o IEMI, traz análises exclusivas sobre o desempenho do setor, tendências de mercado e caminhos para a inovação baseada em inteligência de mercado. Ele explica que por ser um país muito extenso e com uma economia diversificada, o Brasil conta com desempenho muito diferente entre suas regiões e categorias de produto.
“Polos produtores localizados em regiões influenciadas pelo agronegócio ou que focam suas vendas para essas regiões de consumo, por exemplo, estão obtendo resultados melhores. Enquanto aqueles que se concentram, tradicionalmente, em suprir grandes redes de varejo populares, estão sofrendo mais nos últimos anos; assim como os polos dedicados principalmente às exportações, por serem mais dependentes das vendas ao mercado externo, agora bastante afetadas pelo ‘tarifaço’ americano”, comenta Prado.
No mercado internacional, a imposição de tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre móveis de madeira — que representam mais de 80% da pauta exportadora do setor — elevou as incertezas. Projeções do IEMI para a ABIMÓVEL indicam que a medida pode reduzir em até 1,4% a produção moveleira no Brasil. Com os EUA respondendo por quase um terço das exportações brasileiras do setor, o mercado interno reforça ainda mais seu papel de sustentação da atividade.
Nesse cenário, a diversificação de parceiros comerciais também é estratégica. Esther Schattan, sócia-fundadora e diretora da Ornare, trará sua expertise para abordar no Congresso estratégias e exigências para conquistar mercados no segmento de alto padrão, onde prazos, design exclusivo e sustentabilidade são determinantes para a competitividade global.
O Observatório do Sistema Fiep, representado por Laila Seleme Wildauer e Sidarta Ruthes, também apresentará tendências estruturais que afetam diretamente o setor: digitalização, descarbonização e o avanço de um consumo mais singular e segmentado. Esses vetores dialogam com a necessidade de eficiência industrial, precisão no varejo e reposicionamento competitivo nos mercados externos.
Perspectivas, oportunidades e desafios
Nesse contexto, um dos grandes desafios, como será debatido no Congresso Nacional Moveleiro 2025, é converter a tração ainda frágil da economia nacional em crescimento sustentado no médio e longo prazo. Isso significa integrar indústria e varejo, encontrar o equilíbrio entre crédito e investimentos e reposicionar o Brasil com mais competitividade nas cadeias globais de valor.
Por fim, especialistas convergem em alguns pontos: o consumo aparente segue em expansão, mas exige disciplina de estoques e leitura atenta do cenário macroeconômico e também das diferenças regionais; a sustentabilidade deixou de ser diferencial e se consolidou como requisito em negociações com clientes e investidores; os dados assumem protagonismo, orientando do giro no varejo ao investimento em design e inovação; e a digitalização já não é tendência, mas condição para eficiência e relevância no mercado.
12º Congresso Nacional Moveleiro 01 e 02 de Outubro de 2025 Campus da Indústria - Sistema Fiep, Marginal Comendador Franco | Avenida, 1341 - Jardim Botânico, Curitiba - PR As inscrições são gratuitas e já estão abertas.
Mais informações: Congresso Nacional Moveleiro 2025
By ABIMÓVEL
Foto: Divulgação
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