Inspirado pelo tema da mostra, “Semear Sonhos”, o ambiente propõe uma reflexão sobre a dualidade entre essencial e supérfluo, duradouro e efêmero. A passagem do tempo surge como fio condutor, materializada na escolha de elementos naturais que carregam memória e autenticidade. O conceito se desdobra em um estilo sofisticado e atemporal, valorizando a materialidade autêntica e colocando a madeira como protagonista, em diálogo com soluções de design contemporâneo desenvolvidas em parceria com a Madeireira Catarinense.

O espaço foi pensado para um morador contemporâneo que busca equilíbrio entre vida social ativa e momentos de recolhimento, alguém que cultiva ideias, projetos e memórias, valoriza a verdade dos materiais e encontra prazer tanto no encontro coletivo quanto em pausas individuais para leitura, meditação ou café. A planta privilegia fluidez de circulação, conforto acústico e acessibilidade universal, permitindo que pessoas com diferentes necessidades usufruam integralmente da experiência. Texturas aplicadas em paredes, móveis e painéis ampliam a percepção tátil e tornam o espaço inclusivo também para pessoas com deficiência visual.

A paleta neutra, composta por tons terrosos, beges e fendi, é enriquecida por texturas minerais e fibras naturais, criando um cenário acolhedor e sensorial. Os painéis de madeira natural, trabalhados em superfícies abauladas, imprimem ritmo arquitetônico e sugerem um movimento orgânico da natureza, como se representassem o germinar constante dos sonhos. O piso em pedra natural e as rochas aplicadas na cozinha reforçam a solidez e a permanência, em contraste com a leveza da bancada suspensa que materializa a metáfora poética do conceito: “um pé fincado na terra e o outro flutuando no etéreo”.

A iluminação foi tratada como recurso narrativo, estruturada em camadas que destacam texturas, criam atmosferas intimistas e adaptam o ambiente a diferentes momentos. A malha de madeira no teto da cozinha permite iluminação indireta difusa, enquanto a iluminação em LED e a automação de cenários de luz otimizam o consumo energético. Essa atenção à eficiência também se revela no uso de madeira certificada, soluções de baixo impacto e materiais de manutenção simples, estimulando um novo olhar sobre consumo, ao propor que investir em peças duráveis e herdáveis é uma alternativa consciente ao ciclo acelerado do descartável.

Entre os destaques está a mesa de jantar desenvolvida em colaboração com a Residual Design e a MG3 Mármores. A base escultórica, formada por um tronco de madeira reaproveitado e trabalhado artesanalmente, sustenta um tampo de quartzito Capadócia, cuja superfície exibe veios fluidos e tonalidades quentes. A peça sintetiza memória, inovação, natureza e sofisticação, transformando-se em um dos pontos centrais do espaço.

O mobiliário solto, com peças assinadas por nomes como Sergio Rodrigues e Estudiobola, reforça a ideia de permanência e design atemporal. Esses objetos ultrapassam a função utilitária e se tornam heranças afetivas, capazes de atravessar gerações. Tecidos aplicados à marcenaria e ao mobiliário convidam ao toque e suavizam superfícies, ao mesmo tempo em que contribuem para o desempenho acústico do espaço.

Mais do que um exercício estético, “Entre Tempos” se firma como manifesto sobre o papel da arquitetura diante da impermanência contemporânea. O projeto provoca reflexões sobre consumo e durabilidade, propondo que investir em peças herdáveis e materiais autênticos é uma forma de resistência ao ciclo do descartável. A principal tendência apresentada é a valorização da materialidade verdadeira e do design brasileiro atemporal, em contraponto às soluções efêmeras, revelando uma arquitetura emocional e essencialista, que une texturas, mobiliário assinado e soluções construtivas.

O processo criativo nasceu de reflexões fragmentadas, quase como versos soltos que, ao se entrelaçarem, deram forma ao conceito do espaço. Frases como “viver é melhor que sonhar” e a trilha sonora marcada pela voz visceral de Nina Simone em Baltimore traduziram angústias coletivas e esperanças latentes, reforçando a potência da arte como inspiração. A partir dessas provocações, o projeto assumiu um caráter de questionamento: quem governa realmente o futuro que desejamos para o planeta? Nesse cenário de incertezas e escassez de recursos, a arquitetura se coloca como manifesto capaz de resistir e reafirmar a permanência inscrita na verdade dos materiais.

Arqme Arquitetura + Interiores - Flávia Koloske 

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Tainá Pravato Arquitetura

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Serviço CASACOR Santa Catarina | Florianópolis 2025

Quando: De 28 de setembro a 9 de novembro de 2025.

Local: Avenida Governador Ivo Silveira, 3811 – Capoeiras, Florianópolis – SC.

Mais informações: https://casacor.abril.com.br/pt-BR/mostras/florianopolis-2025

Fornecedores: 

Painéis de madeira – Madeireira Catarinense

Base da mesa e espelhos orgânicos – Residual Design

Textura de teto e paredes – Coral Tintas

Cubas e torneiras – Deca

Marcenaria – 90 Graus Marcenaria

Mobília solta – Figo Casa

Quadros – Clarice Iankke

Tapetes – Tapeteiro Tapetes

Decoração – Kasulo Decorações

Eletrodomésticos – Eletro Oeste

Construção – Kube Construtora

Revestimentos – Reis Revestimentos

Objetos e complementos – Casa Vivaz

Mármores e granitos – MG3

By Vanessa Loiola
Foto: Fábio Jr Severo