Design, cidades e o plástico como aliado: a proposta brasileira que será destaque no World Design Congress 2025
*Por Marco Aurélio Lobo Junior

Nas últimas décadas, a acelerada urbanização do Brasil produziu avanços, mas também agravou desigualdades territoriais e ambientais. Nossas cidades concentram desafios estruturais que vão da mobilidade precária à crise habitacional, da má gestão de resíduos à escassez de espaços públicos de qualidade. Nesse cenário, pensar políticas públicas de maneira integrada, com base em dados, tecnologias e soluções sustentáveis, deixou de ser um ideal para se tornar uma urgência.
Foi a partir desse contexto que desenvolvi a tese “Designing Policy for Impact: A Knowledge Platform to Advance Sustainable Urban Development in Brazil”, aprovada recentemente para apresentação no World Design Congress 2025, promovido pela World Design Organization (WDO) e pelo Design Council, em Londres. A proposta central do trabalho é a criação de uma plataforma nacional de conhecimento — um observatório que articula dados, práticas e informações para apoiar o desenvolvimento urbano sustentável no país.
A estrutura da plataforma parte de uma lógica territorial simples e poderosa: as cidades são organismos compostos por camadas interdependentes. Por isso, propus quatro núcleos principais — Casa, Rua, Bairro e Cidade — que refletem diferentes escalas da vida urbana e da ação pública. Cada um desses núcleos é um módulo da plataforma e permite acesso a soluções específicas para seu contexto, sempre classificadas em três eixos: Educação, Promoção e Suporte.

Essa abordagem modular foi pensada para facilitar o acesso e permitir que cidadãos, gestores públicos, empresas, pesquisadores e organizações da sociedade civil encontrem conteúdos relevantes à sua realidade. Por exemplo, no módulo “Casa”, é possível visualizar soluções como captação de água de chuva, mobiliário sustentável e painéis de isolamento térmico. Já no módulo “Cidade”, surgem temas como infraestrutura urbana leve, políticas de mobilidade e grandes indicadores de sustentabilidade.
A plataforma foi desenhada para ser acessível, visual, intuitiva e aberta à contribuição coletiva, funcionando como um sistema de inteligência urbana. Seu modelo foi inspirado em experiências anteriores que coordenei, como o Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (OICS), realizado entre 2019 e 2022 junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e organismos internacionais.
O papel do plástico transformado e do design na agenda urbana
Embora a tese não tenha como foco específico o material plástico, ela oferece um arcabouço conceitual e metodológico que permite incorporar soluções com plástico transformado em diferentes escalas urbanas. Em um país que precisa urgentemente promover a economia circular, o uso qualificado de plásticos reciclados pode ser uma das chaves para transformar o modo como projetamos nossas cidades.
A plataforma proposta permite mapear, qualificar e difundir boas práticas envolvendo plásticos em áreas como: habitação emergencial e moradias modulares; mobiliário urbano, sinalização e pisos drenantes; equipamentos de coleta seletiva e ecopontos; e elementos para educação ambiental e mobiliário pedagógico.
A intenção é tirar o plástico do estigma de "vilão ambiental" e reposicioná-lo como material de inovação, durabilidade e valor social — desde que utilizado de forma responsável, em sistemas bem projetados e com rastreabilidade.
O design, neste trabalho, é tratado como ferramenta estratégica para políticas públicas. Mais do que estética ou funcionalidade, o design é apresentado como mediador entre conhecimento, território e cultura. Ele é o fio condutor que une forma, função e impacto social.
Nesse sentido, o design pode: Ressignificar o plástico como componente legítimo da paisagem urbana; ampliar a aceitação social de materiais reciclados por meio de boas soluções visuais e ergonômicas; promover processos participativos com comunidades locais; e favorecer o desenvolvimento de produtos urbanos que respeitam especificidades culturais e ambientais.
Plataforma como política pública
Além de ser uma proposta acadêmica, a plataforma tem vocação para se tornar uma política pública replicável. Ela pode apoiar prefeituras na formulação de planos urbanos, facilitar o intercâmbio entre cidades, fortalecer o setor produtivo e integrar a pesquisa acadêmica ao cotidiano da gestão pública.
Mais do que um repositório de boas práticas, trata-se de um sistema vivo, que favorece conexões, dá visibilidade a soluções já em curso e fomenta novas possibilidades para o uso inteligente de materiais sustentáveis — como o plástico transformado. Ao propor uma nova forma de organizar o conhecimento sobre cidades, a tese busca contribuir com a construção de territórios mais justos, resilientes e conectados à realidade brasileira.
A presença do trabalho no World Design Congress 2025 representa não apenas um reconhecimento internacional, mas uma oportunidade de inserir o Brasil nas discussões globais sobre como o design pode transformar realidades — começando pelas nossas ruas, bairros, casas e cidades.
Marco Aurélio Lobo Junior
Doutor em Projetos Sociais pela FGV-CPDOC, Mestre e Bacharel em Design pela UnB. 25 anos de experiência em promoção internacional e gestão do design. Gestor em Inovação e Design. Atualmente é coordenador de Design do Centro Universitário IESB, Conselheiro do Centro Brasil Design, Professor de Pós-graduação da ENFAM e Coordenador do Núcleo de Inovação, Sustentabilidade e Design – Global Green Design - INP/Think Plastic Brazil.
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