"A sala de jantar encolheu, mas não pode desaparecer", diz Priscila Poli, designer de interiores especialista em casas de férias
Entre plantas cada vez mais compactas, espaço resiste como palco de memórias, vínculos e experiências que moldam a vida em família
Postado quinta-feira 25/09/2025 por Redação
Categorias: Design Design de Interiores Arquitetura Arquitetura & Design

Ícone da “casa dos sonhos” por décadas, a sala de jantar está perdendo lugar nas novas plantas. Incorporadoras, pressionadas pelo custo do metro quadrado e por um mercado que pede praticidade, passaram a reduzir ou eliminar esse espaço. No lugar dele, surgem os chamados “cômodos flex”, capazes de se transformar em escritório ou quarto extra, além das cozinhas com ilhas generosas que funcionam como ponto central da rotina.
Para se ter uma ideia da força da tendência, nos Estados Unidos, uma pesquisa da Axios revelou que quase 80% dos designers de novos condomínios diminuíram ou suprimiram a sala de jantar nos últimos cinco anos. A mudança faz sentido na lógica da economia doméstica, mas levanta uma questão importante: o que se perde quando a mesa de jantar desaparece?

Para Priscila Poli, designer de interiores especialista em casas de férias, isso é muito mais que um ajuste arquitetônico: é um risco cultural e social.
“Quando a família deixa de se reunir à mesa, não é só o espaço que some, é um ritual de convivência que desaparece”, afirma.
E a ciência reforça: no Brasil, diferentes estudos comprovam que refeições em família estão ligadas a dietas mais saudáveis, menor risco de obesidade infantil e vínculos afetivos mais fortes. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) mostrou, por exemplo, que adolescentes que jantam com os pais pelo menos cinco vezes por semana consomem mais frutas e verduras e reduzem o consumo de ultraprocessados.

Para Priscila, a questão não é falta de metragem, mas de design inteligente. “Cada um comendo em um horário diferente gera distanciamento, mais tempo de tela para as crianças e menos laços familiares”, observa.
Ela lembra que preservar a sala de jantar não depende de grandes espaços, mas de soluções criativas. No Japão, onde os apartamentos são cada vez menores, mesas retráteis e tatames multifuncionais garantem que o ato de comer junto permaneça central na cultura doméstica.
Na Escandinávia, berço do conceito Hygge, que Priscila adapta para o clima tropical, o design minimalista aposta em bancos com dupla função e iluminação acolhedora para criar atmosferas de intimidade e presença.

“O Hygge nos ensina que o aconchego não está no tamanho do espaço, mas na qualidade do momento”, explica Priscila. “Uma mesa pequena, bem iluminada, com cadeiras confortáveis onde todos possam se olhar nos olhos, vale mais que uma sala de jantar enorme onde cada um fica mexendo no celular.”
A designer acredita que preservar esse espaço de convivência é um ato de resistência em tempos de hiperconectividade digital. “Quando criamos um cantinho sagrado para as refeições, estamos dizendo que nossa família vale mais que qualquer notificação do celular. Estamos ensinando nossos filhos que existem momentos em que o mais importante é estar presente, de corpo e alma.”

“O desafio atual da arquitetura é reinventar a sala de jantar sem perder sua essência”, finaliza Priscila. “Projetos que preservam esse espaço de encontro não apenas valorizam o imóvel, mas protegem algo muito mais precioso: a capacidade de uma família se conhecer, se amar e criar memórias que durarão para sempre. Porque no fim das contas, não são as casas que fazem as famílias, são os momentos compartilhados que fazem um lar.”
By Onix Press
Foto: Bruno Carlesse
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