4 projetos de design destacam a palha como protagonista
Em diferentes regiões do país, parcerias entre designers e comunidades de artesanato rendem peças que exaltam brasilidade
Postado segunda-feira 20/05/2024 por Redação
Como uma das matérias-primas mais utilizadas na produção artesanal brasileira, a palha é encontrada em todas as regiões do nosso território. Proveniente do milho e de diferentes palmeiras nativas, as fibras naturais variam em espessura, tonalidade, maleabilidade e, por aqui, são utilizadas há séculos pelos povos originários na criação de objetos que facilitam a vida diária. A tradição nacional no trançado da palha ganha ainda mais força com a influência africana, que durante o processo de colonização, também ajudou a ampliar o portfólio de técnicas e de diferentes tipos de trançados.
No contexto atual, no qual cada vez mais o design busca celebrar a nossa identidade, em diversos projetos que promovem sua integração com o artesanato, a palha aparece como um elemento dinâmico e adaptável a diferentes produções. Para além das cestarias tradicionais, é possível encontrar as fibras em cadeiras, bancos, luminárias, utensílios e outras peças utilitárias e decorativas. Abaixo, conheça uma seleção de peças e projetos que evidenciam e colocam a palha como protagonista.
Cadeira Cocar - Coleção Alma-Raiz
Criada em 2019 pela designer Maria Fernanda Paes de Barros, da Yankatu, em parceria com artesãos da comunidade ribeirinha de Urucureá, no Pará, a Cadeira Cocar celebra a palha de tucumã, palmeira nativa da região amazônica. Com clara ancestralidade indígena, o trançado é fonte de renda de dezenas de famílias que se estendem ao longo do Rio Arapiuns.
Propondo novas interpretações para objetos já produzidos pelas artesãs da região, Maria Fernanda coloca em evidência - como encosto da cadeira - o tradicional sousplat que se torna o centro das atenções da peça esculpida em madeira cabreúva. “Neste projeto, minha ideia era olhar para o artesanato de forma livre, tirando-o do lugar óbvio e mostrando tanto para o artesão, quanto para o consumidor que a mesma técnica, o mesmo trançado e até o mesmo objeto pode ser aplicado em diferentes contextos”, revela a designer.
A peça, que reflete uma parte da cultura imaterial ribeirinha do Pará, tem viajado o mundo com passagens pelas exposições The Chair, em Nova Iorque, nos EUA; Empreendedorismo Social – Identidade e Saber Local, na sede da Organização Mundial de Propriedade Intelectual, em Genebra, na Suíça; Amazonie Immersive, na Bélgica e na Suíça; e mais recentemente na Bienal de Design de Tel Aviv, em Israel.
Poltrona Paulistano
Emblemática e reconhecida como um dos símbolos do design brasileiro, a Poltrona Paulistano foi concebida pelo consagrado arquiteto e designer Paulo Mendes da Rocha em 1957 para mobiliar o Ginásio do Clube Atlético Paulistano, obra arquitetônica da sua autoria em conjunto com João De Gennaro. Com estrutura de aço pintada em preto e assento de lona, ela já recebeu algumas interpretações ao longo dos anos, sobretudo com o couro. Porém, 62 anos mais tarde, em 2020, a cadeira ganhou um assento feito com a palha de buriti e algodão tramados por artesãos indígenas da etnia Kamayurá, do Xingu, no Mato Grosso.
Guiado por sua filha, a também designer Nadezhda Mendes da Rocha, o projeto teve como objetivo retomar as origens desta criação, que foi pensada originalmente com um assento tramado com a fibra de tucum. “Na época, o meu pai não conseguiu viabilizar, mas a partir deste resultado, eu fiquei impressionada com a forma como um objeto de design pode carregar consigo um discurso tão bonito de celebração das nossas origens”, completa Nadezhda. A história do projeto foi contada em um micro documentário disponível aqui.
Utensílios de Ouricuri
Localizado às margens do Rio Brito, no município de Pirambu, em Sergipe, o Povoado Quilombola de Alagamar mantém uma tradição secular com o trançado da palha de ouricuri. Porém, foi em 2019, a partir do contato com a designer Zizi Carderari, do Estúdio Avelós, que eles passaram a aplicar algumas técnicas de design para renovar seu portfólio, com produtos mais alinhados ao mercado, mas mantendo a identidade e as técnicas repassadas de geração a geração.
Com apoio do Instituto Banese, em conjunto com os artesãos, Zizi utilizou o design para criar uma linha de utensílios de cozinha, bolsas e cestos com tamanhos e formatos diversos, trazendo versatilidade no uso das peças. Além de novos formatos, uma das propostas de Zizi foi a mistura de materiais. Em alguns dos cestos a palha se mistura com o algodão em tranças de barbantes nas cores branco, preto e azul marinho. Também foram incluídas algumas alças, que além da função utilitária para ajudar a carregá-los, contribuem de forma estética, trazendo sofisticação. A estratégia deu certo e aumentou o número de pedidos, o que atraiu os homens da comunidade - maridos e filhos - que, até então, se dedicavam exclusivamente a outras atividades como a pesca e a agricultura.
Banquinhos de Carnaúba
Estes simpáticos banquinhos surgiram depois de um projeto de inovação artesanal realizado pelo Museu A CASA na região de Jaguaruana, no Ceará. A ação foi realizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura, em 2018, e teve patrocínio da Água Ama, da Ambev.
Coordenados pelo designer Renato Imbroisi, um grupo de designers desembarcou na região para ajudar os artesãos na criação de diversas peças. Dentre os profissionais, as gaúchas Tina e Lui desenvolveram estes dois bancos infantis tendo como inspiração a fauna local do sertão cearense. Nasceram os burrinhos e cabritinhos, que são feitos em madeira e palha de carnaúba, palmeira que é um dos símbolos do estado do Ceará.
By Angelo Miguel | Comuniquese4
Imagens: Divulgação / Créditos Salvador Cordaro / Diego DiSouza / Marcelo Oséas
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